terça-feira, 21 de abril de 2009

TROPA DE ELITE



Sinopse:

1997. O dia-a-dia do grupo de policiais e de um capitão do BOPE (Wagner Moura), que quer deixar a corporação e tenta encontrar um substituto para seu posto. Paralelamente dois amigos de infância se tornam policiais e se destacam pela honestidade e honra ao realizar suas funções, se indignando com a corrupção existente no batalhão em que atuam.

COMENTARIO:

Quando termina o filme Tropa de Elite, de José Padilha, fica-se com duas sensações: primeiro, o trabalho é um marco no cinema brasileiro; pela primeira vez um filme sobre a violência é narrado pelo ponto de vista dos policiais. Segundo, vivemos em um país violento, e não temos para onde correr! O filme tem esquentado os debates sobre segurança pública. Mas pouco se falou dos méritos cinematográficos. A história é narrada pelo Capitão Nascimento (Wagner Moura). Ele quer sair do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especial, a tropa de elite do título), por causa do nascimento do seu filho. Ao mesmo tempo em que ele deve comandar uma operação no Morro do Turano, buscará um substituto para o seu cargo. Neto e Matias são suas opções. Para ele, o ideal seria ter a valentia de Neto (Caio Junqueira) e a inteligência de Matias (André Ramiro). A direção optou por uma narrativa em primeira pessoa. Os fatos são intercalados com comentários do Capitão Nascimento. Desde o início, o espectador toma contato com uma filosofia sem floreios, que nega qualquer forma de retórica. Capitão Nascimento é um herói-vilão embrutecido pela violência, sofre dos nervos, e procura um substituto para sair do Bope para poder criar seu filho. Ele tem a exata noção das causas da violência: uma polícia corrupta, bandidos com um poder descomunal e que pouco se importam com a população que vive no morro e uma classe média que se sente como dona da verdade, mas financia o tráfico com o uso de drogas para o "lazer"! Wagner Moura encarna perfeitamente esse cruzamento de herói e vilão, que odeia policiais corruptos, que quer matar a classe média que faz campanhas contra a violência, mas compra drogas dos traficantes e não se intimida em usar a tortura para obter confissão. Totalmente politicamente incorreto; um personagem real, repleto de contradições; os espectadores torcem por ele, assim como torcem por Jack Bauer. O Capitão Nascimento é um Jack Bauer que fala português, ganha em reais, e traduz "shit" corretamente! O trabalho de José Padilha causou polêmica antes mesmo de entrar em cartaz. Além de ser o mais pirateado do cinema brasileiro, o filme foi acusado de fascista, de estimular da violência policial, unilateral, até de ser de direita (se é que isso é xingamento?!). Nada disso procede! O que incomodou parte da critica e da "intelectualidade" foi o fato do filme ser direto e de colocar as coisas em seus lugares. Primeiro, a corrupção policial é bem retratada. Porém, o diretor não se furta a mostrar que existem policiais honestos, caso dos aspirantes Neto e Matias. Segundo, os bandidos são bandidos, e não bem feitores em busca da terra perfeita. O cinema nacional tem tradição em reproduzir bandidos charmosos, do O Bandido da Luz Vermelha a Carandiru. Não se trata de criar personagens sem profundidade psicológica, de esconder o lado humano do vilão. Mas, sim, de deixar de lado a mania, comum por aqui, de que o meio social é a única força a determinar o destino das pessoas. No mundo real, essa idéia filosófica séria, tornou-se discurso raso que serve apenas para eximir a culpa de criminosos. No mundo das artes, ele chegou à exaustão. A maior prova é o próprio Tropa de Elite, considerado como renovador do gênero. O cinema nacional estava saturado do mesmo esquema para retratar a criminalidade. E o público também: a forma como Padilha retratou a bandidagem o que mais agradou o público. Os criminosos são violentos, egoístas, interessados no lucro. Ainda assim, o diretor mostra o lado humano deles: quando o chefe do morre se vê ameaçado, sua primeira atitude de enviar a esposa e o filho para um lugar seguro. O filme foi injustamente acusado de fazer apologia à tortura. O próprio diretor em entrevista condenou as práticas do Bope. Ocorre, na verdade, uma confusão entre o ponto de vista do narrador (em primeira pessoa) e o do diretor. A visão de Padilha é maior do que a do Capitão. Em uma das incursões do Bope, Capitão Nascimento utiliza da tortura e invade residência em busca de um traficante. Um dos policiais se opõe aos métodos e pede para se retirar com sua equipe. Será que um filme assim pode ser considerado fascista???.

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